"Sobre fotografia, com mais ou menos poesia".

Tempo das queimadas

Cinza é a cor dos campos do Planalto Central entre julho e setembro. Cinza da fumaça das queimadas, da poeira levantada após a terra colhida, do céu azul obliterado pela secura do ar, pelo vento que circula sem a proteção natural das árvores do cerrado, derrubadas para o plantio da soja, do milho, do algodão.

De acordo com Aziz Ab’Sáber, em Os Domínios de Natureza no Brasil – Potencialidades Paisagísticas, “Os domínios dos chapadões recobertos por cerrados e penetrados por florestas galerias – de diversas composições – constitui-se em um espaço físico ecológico e biótico, de primeira ordem de grandeza, possuindo de 1,7 a 1,9 milhões de quilômetros quadrados de extensão”.

Segundo maior bioma do país, toda essa imensidão de terra e riqueza biológica única encontra-se em franco processo de extinção, ameaçada pela produção agrícola sem controle. Desprotegido pela Constituição Federal, o bioma Cerrado não é contemplado como Patrimônio Nacional, ficando indefeso e sem condições eficazes que assegurem a preservação do meio ambiente e do uso dos recursos naturais.

Como conseqüência, a chamada Savana Arbórea Aberta, a Savana Parque e a Savana Gramíneo-Lenhosa, típicas de chapadões, praticamente não existem mais. As únicas áreas que sobrevivem precariamente são as florestas de galerias e matas ciliares, que acompanham o curso dos rios e constituem áreas de preservação permanente, e a chamada Savana Arbórea Densa (o cerradão), que normalmente vivifica em regiões de topografia mais acidentada ainda imunes à tecnologia das máquinas agrícolas.

O desrespeito às leis de proteção ambiental e a precária fiscalização são tão gritantes, que os 20% de Reserva Legal obrigatórios para qualquer propriedade rural são freqüentemente desprezados, tangendo para as rodovias, para os campos lavrados e para os chamados cerradões, espécimes em extinção, sujeitando-as à superpopulação em pequenos espaços e aos atropelamentos e acidentes nas movimentadas estradas que cortam o Planalto.

Não se trata de proibir a produção. Não se trata de impedir que o plantio e colheita cumpram seu papel, desde que de maneira responsável. Trata-se de exigir o cumprimento da lei da reserva legal, de denunciar o descaso governamental em relação ao cerrado e de procurar reverter esse quadro.

2018

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